MADEIRA MACIÇA VERSUS MADEIRA PLÁSTICA

DECK DE MADEIRA MACIÇA VERSUS COMPÓSITO MADEIRA-PLÁSTICO

Artigo de Dr. Ennio Lepage, consultor técnico da Montana Química S/A

No final dos anos 80, produtos de “madeira-plástico” apareceram no mercado norte-americano, estimulados pelo aumento crescente dos volumes de plástico reciclado e despertando, com isso, a simpatia dos consumidores já sensibilizados pela problemática ambiental.

Os maiores apelos de venda foram: durabilidade elevada, baixa manutenção e uso de materiais reciclados.
Mas será tudo isso verdade? Ou será que estamos diante de mais um caso de “Green wash”, tão bem aceito pela mídia?

Para saber isso, ou pelo menos ter parâmetros de avaliação confiáveis, longe dos holofotes da mídia, vale a pena buscar saber o que pensam e dizem os cientistas sérios, de renome internacional, como o Dr. Jim Bowyer, que em julho de 2010 elaborou um trabalho comparativo das características de desempenho e atributos ambientais da madeira maciça para decks versus tábuas de madeira-plástico usadas para o mesmo fim.
Segundo Bowyer, as tábuas de compósito madeira-plástico são produzidas, principalmente, a partir de polietileno de alta densidade (HDPE) recuperado na forma de sacos de leite, revestimentos de embalagem e de descarte de madeira, sobretudo na forma de maravalhas, sendo tudo moído até baixa granulometria. Entretanto, o contato íntimo entre esses dois materiais não permitiu a transferência das características de sustentabilidade da madeira para a mistura. A madeira vem da fotossíntese regeneradora e o plástico do petróleo fóssil, que junto com outros poluentes promove a mudança climática do planeta.

O mais comum dos compósitos WPC emprega uma mistura plástico/madeira em iguais proporções (1:1). Poucos produtos desta natureza usam polietileno de baixa densidade, polipropileno pó poliestireno e fibras, além da madeira, como resíduos agrícolas ou, ainda, fibra de vidro. Bowyer submeteu os decks a uma comparação de desempenho e de impacto ambiental, sem deixar de lembrar que o exemplar de WPC, por ser ainda um material sem um longo histórico de uso, necessita de estudos e avaliações, enquanto que o de madeira tem suas qualidades amplamente conhecidas.

DURABILIDADE E MANUTENÇÃO

Madeiras
 naturalmente duráveis como o Ipê (Tabebuia sp), Cumaru (Dipterix odorata) e Itaúba (Mezilaurus itauba), comumente usadas na construção de um deck, duram mais de 25 anos, sendo sua vida substancialmente estendida se passar por manutenção adequada com um stain de boa qualidade.

As madeiras naturalmente duráveis e de procedência certificada, ou as madeiras de reflorestamento (Pinus e Eucalipto), com certificação de origem e devidamente preservadas, de acordo com os padrões técnicos existentes, cujas tábuas sejam obtidas por meio de um desdobro radial, durarão muito mais e com um mínimo de manutenção.

Entretanto, é preciso reconhecer que novos aditivos têm sido desenvolvidos para atenuar problemas intrínsecos aos produtos à base de WPC (Morrel, Brelin – 2010). Com isto, seus custos continuam subindo e é bem provável que tais desenvolvimentos estejam cobertos por patentes e ainda não tenham chegado ao Brasil.

Entre os problemas apresentados pelos compósitos madeira-plástico Bowyer destaca os seguintes:

• Manchas: os mesmos tipos de bolores e míldios que afetam a madeira sólida também se desenvolvem em WPC (Ibac, 2010), podendo produzir manchas de aparência desagradável, tanto na superfície quanto ao longo da espessura desse material;

• Biodeterioração: Morrel et al (2010) citam mais de uma dezena de estudos desenvolvidos entre 2000 e 2009 demonstrando que madeira de baixa resistência natural e não tratada contida no WPC  permanece susceptível à degradação. Mais recentemente (Ibach 2010) reitera esse problema;

• Alterações dimensionais pela umidade: Morrel et al (2010) relatam que a absorção e a perda de umidade, com o consequente acompanhamento de contração e inchamento, também foram observados em WPC, resultando em fendilhamento e degradação superficial. Fabricantes anunciam produtos que utilizam fibra de vidro ou aditivos para superar o problema;

• Degradação por UV: da mesma forma que ocorre na madeira, exposição à luz ultravioleta afeta a qualidade da superfície e diminui a resiliência dos WPC, conforme relato de Winandy (2004). Esmaecimento e descoloração também são comuns nos produtos de WPC. Muitos fabricantes dos decks de WPC recomendam a imediata limpeza de graxas e óleos, a exemplo dos protetores solares muito comuns neste tipo de estrutura, evidenciando que este é um problema potencial para algumas linhas destes produtos;

• Isolamento térmico: a Associação norte-americana de Pinus (Southern Yellow Pine Association) lembra que a madeira é um material naturalmente isolante e não conduz calor ou frio, como metais e plásticos. Sob o sol direto, alguns tipos de plástico ou compósitos usados em decks tornam-se muito mais quentes do que a madeira, a ponto de queimar ou produzir bolhas nos pés.

IMPACTOS AMBIENTAIS DECORRENTES DA PRODUÇÃO E USO DOS DECKS DE MADEIRA PLÁSTICA

A chamada “madeira plástica” é comumente apontada como material verde.
Esta percepção equivocada baseia-se nos fatos de que é um produto geralmente fabricado com plástico reciclado e, também, na falsa ideia de longevidade e dispensa de manutenção. Justifica-se pelo fato de que, até recentemente, não havia uma análise sistemática dos impactos ambientais resultantes da produção e do uso das tábuas de WPC.

Relatório produzido pelo Forintek do Canadá (Mahalle e O’Connor – 2009 – FP Innovation) detalha o resultado da Análise do Ciclo de Vida (ACV) de um deck de madeira maciça de cedro vermelho versus similar feito com tábuas de WPC.

A vida em serviço de ambos foi de 25 anos e, ao final, foram dispostos em aterro. O manuseio desses produtos envolvendo transporte, instalação, uso e disposição final foi considerado equivalente e, desta forma, ignorado.
Os resultados deste estudo estão resumidos na Figura 1. Em cada conjunto de barras, o produto com impacto mais elevado foi tomado como referência (100%).

Figura 1: Análise de Ciclo de vida para produtos usados em decks
Fonte: Mahalle e O’Connor (2009). Forintek – Divisão FP Innovation

Para cada medida ambiental realizada, o deck de WPC feito com polietileno virgem obteve os maiores valores e, portanto, maior impacto ambiental. Por seu turno, o deck demadeira maciça apresentou, por ampla margem, os menores impactos ambientais. O Potencial de Aquecimento Global para o deck demadeira maciça apresentou valor negativo.

Grandes quantidades de carbono estão contidas nas tábuas de WPC que compõem o deck. Entretanto, a energia usada na fabricação deste produto resulta na emissão de maior quantidade de dióxido de carbono equivalente do que a contida no produto final.

CONCLUSÕES

Os produtos à base de WPC apresentam as mesmas limitações apontadas por seus fabricantes, em relação à madeira, quando colocados em uso externo. Além disto, a Análise de Ciclo de Vida revela que a madeira maciça, empregada na fabricação dos decks, tem muito menos implicações ambientais do que seus sucedâneos em WPC. Por outro lado, a conservação de florestas tropicais nativas, muito mais do que medidas pontuais, necessitam sim de legislação, fiscalização e sobretudo, de vontade política.